Máscaras usadas contra a COVID-19
Com o surgimento da pandemia da COVID-19 e a transmissão primária de SARS-CoV-2 via gotículas suspensas e aerossóis, a Organização Mundial da Saúde (OMS)1 e o Ministério da Saúde (MS) têm recomendado o uso de máscaras respiratórias em locais públicos. Isto porque, ao tossir ou espirrar, uma pessoa emite partículas (gotículas) de 5 a 10 μm, e, ao falar, partículas da ordem de 1 μm que podem conter uma alta carga viral. Assim, portadores do vírus, mesmo assintomáticos, podem contribuir para a rápida disseminação do patógeno. Suspensas no ar, as partículas diminuem de tamanho devido a evaporação, atingindo dimensões nanométricas e mantendo-se potencialmente ativas.2 O vírus SARS-CoV-2 mede de 70 a 90 nm.
São três as principais máscaras disponíveis para a proteção pessoal:
(1) As chamadas “N95” (norma técnica dos EUA), equivalentes a “FFP2” (norma usada na Europa e Brasil), são máscaras (chamadas respiradores) destinadas aos profissionais que estão em contato com pacientes e atuam em procedimentos potencialmente geradores de aerossóis. As N95 cirúrgicas são constituídas por quatro camadas: a externa, de tecido de polipropileno (PP, também chamado TNT) tratado com ácido cítrico, corresponde a uma barreira física hidrofóbica (avessa a água) que limita a penetração das partículas; a segunda, de fibra de celulose/poliéster, é hidrofílica (tem afinidade por água); a terceira, que corresponde a um filtro de PP de alta gramatura (50 g m-2); e a quarta, que é de tecido de PP tratado com íons zinco e cobre (1,6% m/m). As partículas aerossóis relevantes na transmissão viral são menores do que os poros formados pela trama de fibras dos tecidos que compõem a máscara, e a eficiência de retenção está associada às propriedades de cada camada. A segunda camada de celulose é responsável pela absorção das gotículas e a quarta camada pela imobilização eletrostática dos grupos carregados negativamente presentes no vírus. Elas possuem eficiência de filtração de 99,9% para partículas >300 nm e 85% para partículas <300 nm,3 e são capazes de inativar 99,9% do vírus Influenza, incluindo H1N1. Para o vírus SARS-CoV-2 ainda não há dados conclusivos de inativação.
(2) A máscara médica é normalmente constituída de duas camadas de PP, com 14 a 20 g m-2 de gramatura; ela possui poros maiores e eficiência de filtração de 99,6% para partículas >300nm e 76% para <300nm.3 Ela não possui vedação eficiente ao redor da boca e nariz como os respiradores.
(3) O MS recomenda à população em geral o uso de máscaras caseiras de pano (algodão, PP, etc.). No último dia 05 de junho de 2020, a OMS atualizou suas orientações.1 Recomenda-se a combinação de diferentes materiais e mínimo de três camadas para as máscaras caseiras, sendo a camada interna de tecido hidrofílico (algodão), camada intermediária de PP ou algodão de alta gramatura para filtração e camada externa hidrofóbica. Com mais camadas a vazão é menor e permite maior retenção de partículas. Konda e coautores verificaram que a eficiência de filtração de duas camadas de algodão se aproxima à da N95 para partículas >300nm e a combinação de camadas de algodão e seda natural tem eficiência superior à da N95 para partículas <300nm (94%), a qual foi atribuída à contribuição de uma filtração eletrostática3. Interessantemente, o filtro de celulose para café4 é um elemento filtrante que possui alta gramatura e é bastante hidrofílico, sendo ideal como camada interna ou intermediária. Tanto Konda e coautores3 quanto a OMS1 ressaltam a importância de que a máscara se ajuste corretamente em torno da boca e nariz, para não haver aberturas. Isso porque, como numa filtração, o “papel de filtro” (na camada interna da máscara) precisa estar acomodado no “funil” para não haver fugas. Assim, o filtro de café pode ser dobrado (como mostrado na imagem) para formar vincos e se acomodar melhor ao redor do nariz e da boca.
Fig A-F. Sequência de corte e dobraduras para melhor acomodação do papel de filtro ao redor da boca e nariz para não dificultar a respiração.
A OMS1 ressalta também a inadequação de tecidos de fácil transpiração (por possuírem poros grandes) e tecidos elásticos (que expandem os poros ao esticar e sofrem fadiga) para compor a máscara caseira. Além disso, se molhada a máscara deve ser substituída porque o vírus pode ter mobilidade no tecido e alcançar o nariz ou a boca. Vale ressaltar que, mesmo implementando melhorias, o uso da máscara deve ser sempre associado às outras medidas de contenção da transmissão do vírus.1
Por Prof. Dr. Herbert Winnischofer
http://lattes.cnpq.br/6607268864945311
Saiba mais:
- Advice on the use of masks in the context of COVID-19, https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public/when-and-how-to-use-masks. Acessado em 07/06/2020.
- Howard, J. et al. Face Masks Against COVID-19: An Evidence Review, preprints.org. 2020. DOI: 10.20944/preprints202004.0203.v1.
- Konda, A. et al. Aerosol Filtration Efficiency of Common Fabrics Used in Respiratory Cloth Masks, ACS Nano, 2020, https://dx.doi.org/10.1021/acsnano.0c03252.
- Qual tipo de máscara é melhor? – Uma análise técnica e didática!, https://www.youtube.com/watch?v=HcsSjwIFJRc&t=372s. Acessado em 07/06/2020.