O ano de 2020 foi repleto de desafios e aprendizados, alterando completamente relações de trabalho e o cotidiano. O álcool em gel tornou- se um grande aliado na luta contra a Covid-19, sendo, juntamente com a lavagem adequada das mãos, uma das ferramentas de mais fácil acesso pela população em geral.
Com o objetivo de suprir a alta necessidade deste material, o Departamento de Química da UFPR iniciou, ainda no começo do ano, a produção e doação de Álcool em gel para a comunidade. Para compreender e conhecer mais este projeto entrevistamos o Profº Dr. Rilton Alves de Freitas, do Departamento de Química da UFPR, líder do Grupo de Pesquisa em Biopolímeros e Colóides.
Entrevista realizada em 09/12/2020
– De onde surgiu a ideia de produzir o álcool em gel no próprio departamento?
Profº Dr. Rilton: No início da pandemia, em função da ausência de álcool gel no mercado, bem como do polímero carbômero, usado como espessante, houve a necessidade de: 1) buscar novas alternativas para o carbômero para suprir o mercado nacional; 2) usar o polímero alternativo para produção de álcool em gel.
Surgiu então a necessidade de resolver um problema nacional e um local, respectivamente. Atualmente, meu grupo de pesquisa desenvolve um projeto de pesquisa, financiado pela FINEP, justamente para encontrar alternativas aos carbômeros. Também estabelecemos uma parceria técnico-científica com uma empresa produtora de polímeros, e continuamos com a ação solidária e voluntária, para produção e doação de álcool em gel.
-Quantas pessoas estão envolvidas na produção? Todos são professores?
Profº Dr. Rilton: Atualmente temos 13 voluntários participando da produção e do controle de qualidade, divididos em 3 grupos. Eu atuo como coordenador e responsável técnico, bem como da prestação de contas e entrega dos produtos para as secretarias municipais de saúde. Atualmente sou o único professor envolvido, mas no começo da proposta tivemos a participação dos professores Marco Tadeu Grassi, Ana Luiza Lacava Lordello, do Departamento de Química, e da professora Rosilani Trianoski, do Departamento de Engenharia Florestal, que já fizeram parte do projeto.
-Quais laboratórios estão envolvidos? Há outros departamentos trabalhando no projeto também?
Profº Dr. Rilton: Atualmente as atividades de produção e controle de qualidade estão sendo realizadas no laboratório de aulas práticas de físico-química, onde ficam localizados a produção e o controle de qualidade. A água purificada utilizada é fornecida pelo laboratório BioPol e o etanol, obtido por doação, é analisado pelo LACAUT na Engenharia Química.
-Para onde são destinados os Álcoois em Gel produzidos?
Profº Dr. Rilton: O álcool é destinado principalmente para as secretarias municipais de saúde (SMS), a saber: SMS de Campo Largo, SMS de Cerro Azul, SMS de Fazenda Rio Grande, SMS de Piên, SMS de São José dos Pinhais, SMS de Tunas do Paraná. Também temos um volume considerável de álcool em gel ou líquido destinados ao hospital do trabalhador (HT), UFPR, FUNPAR, às empresas terceirizadas entre outros.
-Foram necessárias adequações nos laboratórios e métodos para que a produção fosse possível?
Profº Dr. Rilton: Sim! Inicialmente, foram adquiridos, com recursos próprios, alcoômetros, baldes, pás, agitadores, balanças para produção. Recentemente, recebemos um agitador/reator de 50L da UFPR para padronizar o processo produtivo que demandou instalação elétrica. O laboratório de aula de físico-química experimental foi modificado com remoção das persianas, controle de limpeza de piso e de janelas/paredes, padronização de vestimenta para acesso, elaboração de procedimentos operacionais padrão, rotulagem, e ordens de produção. Já foram feitas vistorias pela vigilância sanitária para avaliar o processo produtivo e o produto final.
-Vocês estão utilizando uma matéria prima alternativa para a produção, não é mesmo?
Profº Dr. Rilton: Sim! Foi desenvolvido, em parceria com a empresa MC Química, derivados de celulose como substituto aos carbômeros, a saber a hidroxipropilmetilcelulose (HPMC) e a hidroxietilcelulose (HEC). O HPMC é utilizado no processo produtivo de álcool em gel na ação voluntária, e foi doado pela empresa MC Química. O etanol e o glicerol também são obtidos a partir de doações, como por exemplo Petrobras e BR Distribuidora.
-Quantos litros já foram produzidos/doados?
Profº Dr. Rilton: Já fizemos 9.000 kg de álcool em gel/líquido para doação.
-Se alguém quiser ajudar nas doações, seria possível?
Profº Dr. Rilton: As doações são controladas pela PRA da UFPR. Todas as demandas são enviadas para eles, que nos repassam. As entregas são realizadas diretamente para as secretarias municipais de saúde.
-Como o Sr. vê que essa iniciativa impacta a sociedade e quem pode ser ajudado por ela?
Profº Dr. Rilton: No momento da pandemia, a ação voluntária supre a demanda das secretarias municipais de saúde, contribuindo para a promoção da saúde nas unidades de pronto-atendimento e hospitais. Assim, a contribuição do projeto é extremamente importante, para fornecer de forma gratuita, um antisséptico importante para controle da pandemia.
Agradecemos muito ao Profº Dr. Rilton pela disponibilidade!
Podemos compreender que através de ações, como este projeto voluntário de Produção de Álcool em Gel, a Universidade Federal do Paraná contribui cada vez mais para a comunidade, cumprindo seu papel social não somente nos campos de ensino, pesquisa e extensão, mas também como agente de transformação da sociedade.
